O coelho sem orelhas
Era uma vez um coelhinho que fazia tudo o que os outros coelhinhos faziam: saltava, comia grandes montes de cenouras, brincava, jogava às escondidas... Mas ninguém o convidava para brincar, nem se juntavam a ele porque este coelhinho era diferente, este coelhinho não tinha orelhas.
Como não tinha amigos, sentia-se muito sózinho. Até que um dia, mesmo à sua porta, encontrou um ovo. Olhou em volta para ver se pertencia a alguém; como não viu ninguém, decidiu escrever num papel: "Encontrou-se um ovo. Entrega-se a quem provar pertencer". Depois tirou várias cópias e colou-as nas árvores do bosque.
Passaram-se dois dias e ninguém reclamou o ovo. O coelhinho dirigiu-se, então, ao gabinete de perdidos e achados e perguntou:
- O Sr. sabe-me dizer se alguém perdeu um ovo?
O homem, olhou para o coelhinho e desatou a rir:
- Um ovo não sei, mas sei de quem perdeu as orelhas.
O coelhinho sem orelhas ficou muito triste e zangado com o homem e saiu dali rapidamente. Como ninguém apareceu a reclamar ovo, o coelho decidiu levá-lo para sua casa e cuidar dele com amor e carinho.
E assim foi! Desde esse dia, coelho e ovo tornaram-se inseparáveis. Comiam juntos à mesa, passeavam, viam filmes de aventuras; o coelhinho lia-lhe lindas historias e, à noite, nunca mais dormiu sózinho. Este coelho cuidava mesmo bem do seu amigo ovo.
Certo dia, levou-o a passear ao alto de uma montanha para que este apanhasse ar puro mas algo de terrível aconteceu: distraiu-se por uns segundos e uma rajada de vento fez rolar o ovo montanha abaixo. O coelho bem que correu atrás para o tentar apanhar, mas já era tarde pois o ovo já tinha batido numa pedra e estava partido em duas metades.
O coelhinho imaginou um trágico fim para o seu ovo e até teve receio de se aproximar mas, assim que chegou perto das duas metades, viu algo amarelo. Olhou bem e ficou muito dececionado:
- Oh! Um pinto com duas orelhas? Será que não me poda sair algo melhor?!
O pintaínho, ainda humido, olhou tristemente para o coelho com os seus pequenitos olhos e, numa voz muito baixinha disse:
- Piu! Piu!
Aquele pequeno piar foi direitinho ao coração do coelho sem orelhas que, comovido, abriu os braços e deu um grande a apertado abracinho ao seu novo amigo. Depois, com a voz embargada, disse-lhe:
- Desculpa amigo! Afinal quem sou eu para te julgar? Logo eu que deveria ter duas orelhas e não tenho nenhuma!
Desde esse dia, voltaram a ser inseparaveis. Faziam tudo juntos e adoravam jogar às escondidas, mas o coelhinho descobria sempre o seu amigo porque as orelhas ficavam de fora.


Abracinhos
e
Boa Páscoa!